O personagem criado por Roberto Gómez Bolaños, conhecido no seu meio como Chespirito (pequeno Shakespeare adaptado para a língua espanhola), conquistou fãs por onde passou.
E não foram poucos os países nos quais o seriado foi exibido: no seu auge, foi assistido simultaneamente em mais de 20 países. Inicialmente pensado para o público adulto, Chaves acabou por arrebatar os mais jovens, como adolescentes e crianças. O menino órfão que se escondia num barril, mas nem por isso era triste, sempre tinha uma brincadeira ou piada e se dava bem com suas artimanhas. Mas como tudo começou?
Quem foi Roberto Gómez Bolaños?
Nascido na Cidade do México em 1929, o criador dos fenômenos Chaves e Chapolin, era filho de Francisco Gómez Linares, um pintor-ilustrador de certo sucesso, e de Elsa Bolaños, secretária bilíngue. A morte prematura do pai, quando Roberto tinha apenas 6 anos, colocou a família em uma difícil situação, com muitas dívidas. Sua mãe não se intimidou: assumiu as responsabilidades, trabalhou em diversas áreas e acabou se tornando uma verdadeira empreendedora, conseguindo, assim, criar os filhos. Roberto era franzino e medroso e essas características logo começaram a lhe trazer problemas na escola: brigas e mais brigas. Para a surpresa de muitos, tornou-se bom de briga, batendo nos grandões que o ameaçavam. Ficou tão bom, que se tornou lutador de boxe. Isso mesmo!
Você imagina essa figura genial num ringue? E num campo de futebol? Pois é, Roberto, o Chespirito, também foi jogador de futebol, e dos bons. Sua carreira não foi adiante, segundo ele mesmo, porque enjoou de fazer gols. Imagine! Mas seu talento mesmo estava para vir à tona. Líder nato, destacava-se em todas as turmas das quais fazia parte. Era romântico e escrevia cartas e canções românticas como poucos.
Era bom de matemática, desenho e pintura, o que o levou a acreditar que poderia ser engenheiro. Tentou, mas não era para ele. Um semestre bastou para desistir e mudar de ares, quando viu um anúncio procurando pessoas interessadas em trabalhar em rádio e TV. E lá foi ele tentar a sorte como escritor de propagandas. Logo seu talento chamou a atenção e aí começou a sua carreira de sucesso. Foi convidado a escrever programas na emissora de rádio. Um deles, Viruta y Capulina, fez tanto sucesso que teve seu horário estendido e, logo em seguida, foi levado para a televisão. Já casado com Graziela, seu primeiro grande amor, e com 6 filhos, além de escrever, para compor o elenco, começou a atuar e a fazer mais sucesso ainda. Com o sucesso vieram a inveja dos outros atores e também os conflitos. Foram tantos que ele pediu demissão e decidiu seguir seu caminho. Foram dias difíceis.
Desempregado por opção, entrou em uma crise e, para piorar, perdeu a mão para um câncer no pâncreas. Mas como desistir não era com ele, aceitou o convite de outra emissora de TV para fazer um programa seu, o “El ciudadano Gómez”. Mas o fracasso veio no lugar do sucesso e o que restou foi um espaço de apenas dez minutos dentro de outro programa, mas com liberdade total. Foi então que criou o “Chespirotadas”, com alguns quadros, e quando nasceram os personagens que viriam a acompanhá-lo por uma vida.
O sucesso absurdo mudou tudo novamente e Roberto voltou a ter um horário só seu. E aí, criando mais a cada dia, criou o “El Chavo del Ocho” (numa tradução literal, “O menino do 8” ) ou “Chaves” como ficou conhecido pelo mundo. Assim, Chaves e a sua turma ganharam o mundo.
Chaves. Um personagem sem segredos.
Inicialmente, Chaves era um quadro dentro de um programa produzido e veiculado pela TIM, Televisión Independiente de México. Até hoje há controvérsias quanto à data da sua estreia, mas dizem que foi em 21 de junho de 1971. Mas vamos e venhamos que isso não é o mais importante. O que importa mesmo é que esse personagem inofensivo, um anti-herói na verdade, falava uma linguagem universal e criou uma identificação imediata com a sua audiência. Quando a TELEVISA incorpora a TIM e fica com os direitos do programa, acontece o impulso que faltava para Chaves saltar de patamar e se tornar um fenômeno.
Não só o Chaves, mas os seus companheiros de aventuras entraram para o imaginário de milhares de fãs, primeiro no México e depois pelo mundo. Os mais famosos, como Chiquinha, Quico, Seu Madruga, Dona Clotilde (Bruxa do 71), Senhor Barriga, Dona Florinda, Professor Girafales, Nhonho e Pópis, viveram, juntos, momentos pra lá de divertidos, muitos deles inesquecíveis.
Como série, a produção de Chaves durou dez anos e o número de episódios é outro assunto controverso. O número exato é difícil de apontar, mas gira em torno de 300 ou mais entre os oficialmente exibidos, regravados e os considerados “pedidos”. Claro que um sucesso como esse teria que estar envolto em algum tipo de mistério. O que sabemos, com certeza, é que o último episódio inédito de Chaves foi ao ar em 1980, no México, e em 1992, no Brasil. Daí por diante, somente reprises. Mas quem se importa? Afinal, as reprises dessa obra magistral encantam milhares de pessoas até hoje. Roberto Bolaños, Chaves e sua turma, inesquecíveis!
Fontes: SBT/Uol/TV História